HOMOSSEXUALIDADE
A homofobia assassina em números no ano de 2014
HOMOFOBIA EM NÚMEROS EM 2014
Trinta! Em 28 dias do ano de 2014 já são TRINTA o número de “homocídios” no Brasil. Em 2012, conforme tem circulado pelas redes sociais, 44% dos crimes homofóbicos com vítimas fatais ocorreram na pátria “mãe gentil”, o Brasil, que está mais para madrasta e má mesmo, do povo LGBT.
Este número pode não alarmar muito os incautos. Aqueles que não acreditam que existe homofobia no Brasil. Acham que aqueles que estão em alerta, contando o número de vítimas como o Grupo Gay da Bahia, estão produzindo “factoides” ou contos da carochinha, isso para não falar daqueles que põe a culpa na vítima, como já li e ouvi tantas e tantas vezes.
O último crime homofóbico letal aconteceu em plena rua Augusta na cidade de São Paulo, o nome da vítima era Bruno e tinha apenas 18 anos de idade. Seu crime? Ser gay. Sua sentença? A morte.
No Irã, onde a pena de morte é aplicada aos homoafetivos, certamente matou-se menos em 2014 que no Brasil nos primeiros 28 dias do ano.
Soube hoje, pelo Facebook, que um rapaz niteroiense foi brutalmente agredido e só saiu com vida da briga com seu agressor porque lutou muito pela vida! Foi agredido não porque o agressor queria sua mochila ou sua carteira, mas por simplesmente ser gay.
São Paulo acompanhou o caso do adolescente Kaique e a versão oficial do caso é que foi suicídio. Polícia locuta, causa finita! A família admitiu a versão, dizendo que no diário do adolescente estava mesmo registrado um texto de despedida. Ainda que seja suicídio, o que ocorreu com o adolescente paulistano é fruto da homofobia, a chamada homofobia internalizada, causada pela pressão social que o povo LGBT sofre desde que os sinais de uma sexualidade destoante da norma aparece.
Qual é a causa da homofobia? O que leva um ser humano a matar o outro, a ter ódio do outro por ser gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual? Alguns responderão com propriedade que é o machismo. Outros apontarão o patriarcalismo brasileiro, outros, ainda, a misoginia [aversão ao feminino ou ao que parece ser feminino].
Tais respostas são dadas por aqueles que ficam, na minha opinião, na superfície do problema. Quem deu luz ao machismo, patriarcalismo e misoginia? O que está na base da nossa cultura que faz movimentar essa máquina de morte?
A religião! Não é à tona que nossa cultura é chamada “judaico-cristã”!
Religiosos sinceros dirão que culpa-los pelo assassinato de pessoas LGBT é um “pecado”, uma mentira, uma calúnia! Porque eles pregam que se deve “amar o pecador” [no caso os LGBTs], mas ODIAR, ABOMINAR o pecado [no caso, a prática, a sexualidade vivida e assumida].
“Orações Para Bobby”, um filme coproduzido pela Igreja onde sou Ministro mostra muito bem como a coisa toda funciona. Pais e mães, crianças, adolescentes e jovens são bombardeados pela pregação pastoral ou clerical que diz que a homossexualidade é uma abominação! Ora, se é uma abominação a Deus, deve ser abominada da terra, tem outra saída?
Nunca ouvi de um pastor ou padre que se deve sair por ai batendo, torturando e assassinando LGBTs e creio que jamais ouvirei. O discurso é mais sutil, mas eivado de reprovação que leva ao ódio.
Também não tenho dados para provar que a maioria dos assassinos de LGBTs são religiosos, contudo, são pessoas, não são ETs. São pessoas formadas, adestradas dentro dessa cultura judaico-cristã que diz com todas as letras que homossexualidade é uma abominação.
Sendo o discurso religioso um discurso performativo, ou seja, que leva o sujeito que adere tal discurso a uma ação, a um posicionamento, logo, aquele que aceita como verdade legítima e incontestável o discurso homofóbico [sim! Repito! HOMOFÓBICO!] da religião fundamentalista, jamais será um defensor dos direitos civis para o povo LGBT, muito menos aprovarão suas práticas, ou seja, a vivencia das suas sexualidades [sim, no plural!].
Tenho acompanhado o Papa Francisco e suas breves, mas importantes alocuções sobre homossexualidade. Este Papa tem feito em pouco tempo o que em 2 mil anos de história da Igreja foi simplesmente a legitimação do discurso que cola na sexualidade homoafetiva o selo da abominação. Dentro do avião, respondeu ao jornalista que lhe perguntou acerca do assunto: “quem sou eu para julgar?”. Jamais, até onde estou eu ciente, um Papa declarou algo parecido.
Os pastores fundamentalistas jamais disseram algo neste sentido que o Papa Francisco declarou. Eles preferem o discurso hipócrita do “ame o pecador, mas abomine o pecado!” Para além, continuam atuando junto aos parlamentares evangélicos fundamentalistas para que nada, nenhuma lei que promova a cidadania plena de LGBTs seja aprovada no Congresso Nacional. Fazem lobby pesado contra o que eles chamam de “agenda gay” ou “homossexualização da sociedade brasileira”.
O fato é que, ainda que indiretamente, a religião fundamentalista tem suas mãos sujas do sangue do povo LGBT assassinado. Essas trinta almas ceifadas nos primeiros 28 dias de 2014, empaparam o solo do Brasil com seu sangue e perderam sua vida por conta do discurso que gera um posicionamento, que se dissemina e que é formadora da nossa cultura.
Não dizem os parlamentares da Frente Parlamentar Evangélica e seus defensores tele-evangelistas que o Brasil é laico, mas não é ateu? Que nossa cultura é judaico-cristã? Então! É com a ajuda deles, com o discurso deles que é reforçado o senso comum que trata o povo LGBT como abominação, digo o povo, as pessoas e não as práticas porque para mim é inconcebível separar agente de ação. Eu sou gay, logo, vivo minha sexualidade, logo, quem vive minha sexualidade sou eu. Como separar isso? Como me amar e, ao mesmo tempo, abominar minha sexualidade plenamente vivida?
O que é abominável é preciso ser extirpado. É preciso ser erradicado. Estão conseguindo aos poucos (?) muitas aspas nesse “pouco” porque 28 mortes já em 2014 é um número alarmante!
Para além dos religiosos fundamentalistas eu lanço a acusação de coautores desses crimes os parlamentares que nada fazem, além do Poder Executivo da Nação que só faz é conchavo com os fundamentalistas porque o que mais interessa é o resultado das urnas, ainda mais em ano de eleição. Sim, nossos políticos também têm as mãos sujas de sangue por serem omissos, e, no caso da Frente Parlamentar Evangélica por ser a pedra de tropeço para a aprovação de leis que possam vir a proteger nosso povo do Arco-Íris.
Trinta mortes, trinta crimes de ódio nos primeiros 28 dias do ano! Se uma imagem fala por mil palavras, creio que um número que também é imagem se digitalizado como estou fazendo agora – 28 – também vale por mil palavras.
E não pense que você que me lê e que se acha o gay macho está livre de ser a próxima vítima! Não pense você que não gosta de militância e ainda fala mal – sim, eu sei que temos muitos problemas na militância, mas isso não é desculpa – acha que a mão assassina e homofóbica não possa te atingir. Sinceramente, eu desejo que não. Sonho e luto para que tais crimes de ódio sejam erradicados do Brasil! Mas pense! Pense e aja! Eu e você podemos ser a próximo cadáver estirado no chão porque simplesmente somos o que somos!
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