Gays contam como seguiram suas vidas após passarem por agressões homofóbicas

O que muda na vida de uma pessoa após ela ser vítima de uma situação homofóbica? O Mix conversou com três pessoas, do Norte ao Sul do Brasil, para saber como elas lidam com a situação após serem agredidas apenas por serem LGBT. Ser homossexual em um País em que, de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), só em janeiro de 2014 ocorreram 42 mortes de homossexuais não é fácil.
Da capital de Pernambuco, Recife, Diana Madalena, de 33 anos, conta que “no Nordeste estamos muito desamparados. A realidade é gritante, falta orientações aos gays. A polícia só cuida do tráfico”, alegando que a Justiça não pune atos homofóbicos. Já no Sul, o professor de Ensino Fundamental Leonardo Rocha diz que existe demasiada homofobia nas escolas. “Aqui em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o preconceito vem até dos próprios colegas professores.” Eles são pessoas que sofreram algum tipo de homofobia durante a vida, e nos contam como lidam com a situação.
“Eu sofri bullying na escola, começou mesmo na quarta série. Sempre fui um garoto muito quieto e vivia no meu grupo de amigas, éramos quatro. Na escola que eu estudava, quando você entrava em uma turma, ficava nela até terminar os estudos, por isso foi muito difícil. Meus colegas de sala me chamavam de viadinho e outras coisas que preferi esquecer. Eu era excluído na escola”, lembra Leonardo. Ele diz que precisou fazer tratamento psicológico pelo fato de ter sofrido intensos ataques dos rapazes durante a adolescência.
“O tempo passou, quando entrei no Ensino Médio pensei que tudo mudaria, já que eram pessoas novas na sala. Mas mesmo assim evitei expor minha sexualidade. Eu até tentei pensar e me assumir, mas teve um caso na escola que me chamou atenção. Dois alunos da escola foram chamados à diretoria para uma conversa séria, já que eles deram um selinho na hora do intervalo.” Leonardo diz que após o trauma na escola, ele entrou para a faculdade onde conseguiu maior amadurecimento. “Acabei virando professor, voltei para o mesmo ambiente que antes sofria bullying, agora o preconceito é dos próprios colegas de trabalho”, declara o professor.
Para ele, o preconceito é velado e a culpa pela homofobia é passada para terceiros. “Quando você está em uma escola particular eles dizem que não são homofóbicos, mas precisam tomar algumas atitudes pois são pedidos dos pais.” Ele diz que em sala de aula tenta estimular os alunos a refletirem sobre diversos preconceitos e é quando ocorrem os conflitos entre a direção da escola e os outros professores.
Enquanto isso, no Nordeste…
De Recife, Diana Madalena diz que quase foi agredida dentro de um ônibus. “Eu estava pegando o transporte público com a minha namorada. Um homem levantou do lugar e fez questão de ficar em pé do nosso lado, quando começou a olhar para nós duas com um ódio mortal e ficou nos encarando como se fosse fazer algo, até que um policial paisano que estava ao nosso lado levantou e perguntou se tinha algum problema. Ninguém sabia que o rapaz que estava questionando era policial. Enquanto o rapaz não se identificou como autoridade, o homem começou a querer a discutir e falar mais grosso. No ponto seguinte, o homem desceu nos xingando, e todos ouviram.”
Depois deste episódio, Diana diz que evita andar de mãos dadas com a namorada, inclusive ficar em lugares abertos com ela. “Agora evitamos sair para boates e bares, nosso lazer é uma praia de dia, e às vezes beber, mas em casa.” Para Diana é necessário “mudar as leis, punir devidamente casos de homofobia e fazer com que estes crimes não sejam impunes”. Ela alerta que “até mesmo a própria polícia que deveria proteger na verdade tortura os homossexuais”.
Na selva de pedra
Em 2011, o advogado Marcelo Martins Ximenez ganhou a mídia por processar a doceria Ofner, em São Paulo, após ser informado por um segurança do estabelecimento que não poderia ficar abraçado com seu namorado - já que era um lugar de respeito e frequentado por pessoas de família e não “bichas” (lembre o caso aqui). Três anos depois de eles processarem a doceria e ganharem a causa, Marcelo faz parte da Comissão da Diversidade da OAB de Jabaquara, em São Paulo.
“Uma situação tão constrangedora e infeliz fez com que eu buscasse transformar minha vida profissional em um luta contra a homofobia. Depois do ocorrido, surgiu a oportunidade de eu fazer parte desta Comissão dentro da Ordem dos Advogados e agora eu posso ajudar pessoas que sofreram agressões não só verbais como eu, mas também físicas”, diz o advogado.
Para ele, transformar algo ruim faz bem. “Isso é bom, claro, eu passei a evitar a expor carinho com meu namorado em lugares públicos. Sempre ficamos atentos, entretanto, agora sei que posso ajudar outras pessoas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário