Grindr, Scruff, Hornet e derivados
O leitor Caio mandou uma sugestão de tema. Apresentou sua ideia sobre esses apps que estão infestando o meio gay e vou extrair um trecho de suas reflexões para fazer um “bate-bola”:
“Mas já que você citou os aplicativos de relacionamento para gays, tenho que dizer que temo que eles se popularizem tanto, a ponto de por em cheque a busca por relacionamentos via encontros pessoais. Isto porque buscar caras só pela net não é bom, afinal é um meio “pobre” para conhecer alguém. Muitas vezes recebemos mensagens e ignoramos pois pelas fotos não dá para ter noção da pessoa e as vezes aceitamos quem não agrada pelo mesmo motivo. Ao passo que ao vivo poderemos ver a pessoa da cabeça aos pés, ter uma leve noção da personalidade pelos gestos, modo de falar, podemos talvez perceber as intenções mais facilmente, fora que tem todo o lance do cheiro e da visão do corpo como um todo sem truques; veremos a real idade pelo seu semblante e por aí vai. É assim que percebo que possamos observar um cara que até então não chamava a atenção, mas aí olhamos de novo e o mesmo homem parece ser diferente, mais interessante rs. O que não aconteceria se fosse pela internet. É dessa forma, que como eu disse em outro comentário, que acabamos gostando de alguém fora do perfil idealizado”.
A questão da “frieza” da Internet ou dos meios online para relacionamentos é discutida há muito tempo. E o alvo inicial, “pai de todos”, se posso considerar assim, é o famoso “Bate Papo UOL” que ainda vigora, em plena performance. Isso é discutido principalmente entre meus amigos “cabeções” (gays e heterossexuais pois hétero também busca relacionamentos pelos meios virtuais) desde sempre: “será que a Internet está esfriando o contato humano?”.
O assunto é bastante amplo e poderíamos gerar centenas de comentários e pontos de vista a respeito. O meu está formado pois são décadas (praticamente desde que a Internet era via modem) que ouço o assunto de tempos em tempos.
No meu ponto de vista, não acho que os meios se substituem, mas se complementam. E essa é minha conclusão antes de concluir (rs).
A abordagem pessoal mais comum é regada de características:
1 – Buscamos vestir o “melhor modelito” (o critério individual considera o melhor: largado, playboy, fashionista, etc.). Vale um perfume também;
2 – Fazemos um esquenta num bar (preferencialmente gay para sentir o bumburinho);
3 – Encontramos um grupo de amigos para o esquenta (ou se vamos de carreira solo, fazemos o esquenta em casa ou dentro do carro. Costumamos partir direto pra balada escolhida);
4 – Chegamos na balada, preferencialmente quando estiver mais cheia pois aí já ligamos o radar na própria fila;
5 – Entramos, pegamos mais algumas bebidas até bater o “grau da desinibição”, miramos, trocamos olhares e – raramente – trocamos ideias;
6 – Beijamos, amassamos, apertamos aqui e ali;
7 – Se valeu a pena, conversamos e até trocamos número. Se a vibe é de beijar outro, deixamos a pessoa de canto e ligamos o radar de novo.
Claro que existem nuances nesse padrão, mas basicamente é assim que coisa funciona quando o assunto é a “caça” tête-à-tête. Nessa toada, temos que ter o bom gosto de escolher “a roupa bacana” (seja largado ou cuidado), gastamos com gasolina ou passagem, minutos no trecho até os locais, gastamos com bebidas, com a consumação da balada e, normalmente, perdemos o dia seguinte inteiro pois o normal é chegar as 4 da manhã em casa. Isso quando a turma não resolve comer um lanche numa padarias 24 horas e o descanso mesmo só vem ao amanhecer!
Super gostoso. Eu adorava e até adoro, num cantinho fervido dentro de mim.
Percebam, queridos leitores, como nossos processos na prática são mecânicos, quase robotizados. Nessas “etapas”, se um dos amigos “infringe” a regra e já consegue alguém no bar – na fase de esquenta – costuma gerar ciúme / inveja / comossão nos demais que querem se direcionar a balada (RISOS). Vai dizer que não é assim?!
O Grindr, Scruff e Hornet, a mim, são facilitadores desse processo, mas não estão reinventando nada do comportamento e das necessidades gays. Alguns programadores bem espertos sacaram esse “modelão” mecânico e nos ajudaram DEMAIS a reduzir as etapas e, principalmente, a fazer uma grande economia de tempo e dinheiro!
Os de melhor aparência, de corpos torneados, de fotos mais bem produzidas ou os que tem bom papo por texto (nesse caso é interessante porque quem não escreve direito costuma se dar mal também) acabam realizando o encontro. Não é muito diferente quando estamos na muvuca da balada e miramos em alguém. E, no encontro, as pessoas conhecem a “personalidade na forma de se expressar”, como bem disse o Caio, que pode sim ir além do sexo.
Vai depender das necessidades do “rôbo” dentro de cada um de nós.
Claro que existem os perfis fakes e aqueles que se reinventam nas fotos para “vender o que não são” ou acham que são. Mas isso não é exatamente igual no tête-a-tête, quando a aparência de fulano forma um imaginário em nossa cabeça, mas na hora de trocar ideia a coisa muda de figura? rs
Assim, amigos leitores, entendo esses aplicativos como facilitadores. Os que não são fotogênicos (rs) e que no encontro pessoal poderiam até fazer a diferença acabam se dando mal. Falta também muita cultura escrita em nosso país, o que acaba filtrando bastante. Pelo menos, a mim, esses são pontos que entendo como relevantes no momento que me coloco como usuário dos apps.
Ainda existem dois últimos aspectos importantes:
1 – Os bissexuais e os gays enrustidos têm um caminho mais seguro por intermédio desses programas. Podem se aventurar mais e, assim, se conhecer mais praticando encontros reais (porque a finalidade acaba sendo o real mesmo, mesmo que se leve tempo para “dar química”);
2 – Podemos realizar fantasias com tipos que, outrora ou perante nosso grupo social, em nossa cabeça não são adequados apresentar. Como já disse, está cheio de “gay macho” querendo conhecer a “mocinha”. Mas como entre amigos isso é colodado em conteste, dificilmente o “machão” levaria a “moçoila” para o círculo social, por puro exercício de reputação, preconceito e imagem. Isso é apenas um dos exemplos, mas sabemos que estamos cheio dessas coisas.
Então, Grindr, Scruff e Hornet são bons ou ruins para a socialização? Formam apenas mais um meio para necessidades e vontades latentes, no caso, do homem gay. É necessário também ter suas preocupações – básicas dos meios virtuais – mas são preocupações que não diferem dos cuidados quando saímos na rua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário